[Testemunho] Jovens australianos mudaram a vida de um peregrino paraguaio

História apresentada por Beth Doherty, da conferência Episcopal Australiana
Quando, em 2002, pensava na possibilidade de participar na JMJ um amigo disse-me algo que nunca esquecerei. “Por que é que tantos jovens católicos gastam milhares de dólares para participar na JMJ e celebrar a sua fé enquanto outros não podem sequer comer?”. Não há uma resposta fácil para esta questão.


Na verdade, organizações da Igreja como a Caritas Australiana, Trabalhadores Jovens Cristãos e Conferências de São Vicente de Paulo, fizeram a mesma pergunta ao planear a sua participação na JMJ Australiana de 2008.


Estas e muitas outras organizações chegaram à conclusão de que poderia ser uma oportunidade para evangelizar e consciencializar sobre a desigualdade.Mas, como tudo neste mundo, a JMJ não é perfeita. Muitos peregrinos, inclusivamente animadores de grupos, nunca fizeram essa pergunta.


Os que se interrogam enriquecem-se por eles mesmos

Durante os “Dias nas Dioceses”, em Sidney 2008, conheci Palácios Estigarribia, um rapaz de 19 anos natural de Bañado Sur, uns subúrbios de Assunção, Paraguai. Mário tinha 7 irmãos e, ao terminar o colégio, não teve oportunidade de continuar a estudar. Na zona de que ele é originário, só 1 em cada 10 tem emprego, de modo que não era de esperar um futuro muito prometedor. Apesar de tudo, Mário tinha uma fé profunda e estava envolvido na catequese para jovens do seu bairro. Por isso, ofereceram-lhe a oportunidade de ser um dos quatro representantes das escolas jesuítas do Paraguai em Magis, a participar no programa da Jornada da Juventude Jesuíta.

As suas três companheiras, Maria José, Nádia e Nancy, também eram alunas de colégios jesuítas, mas todos vinham de diferentes classes sociais. O padre que os acompanhava escolheu-os precisamente para contar com membros representativos de toda a sociedade paraguaia, dos mais ricos aos mais pobres.

Mantive o contato com os paraguaios e Mário confidenciou-me que, se pudesse estudar, gostaria de seguir jornalismo. Mandei alguns mails a colegas e amigos e, numa semana, tínhamos conseguido o dinheiro suficiente para que Mário se matriculasse em jornalismo durante seis meses. Graças à JMJ, ao meu encontro com Mário e a outros que souberam da sua história, ele tem um futuro e um lugar na sociedade. Trabalhará como jornalista desafiando o status quo no seu país.

Hoje ele continua a trabalhar com os jovens do seu bairro e colabora num movimento novo que ajuda as pessoas da sua comunidade a entender a sua situação e a sair dela. Só um de tantos.


A JMJ não é umas férias. Ela é, antes, uma oportunidade de unir o mundo na fé de Jesus Cristo.

O esforço que desenvolvemos para conseguir fundos, e o reconhecimento do grande desafio que supõe vir de países economicamente desfavorecidos, torna-nos mais conscientes do esforço que faz a maioria da população mundial para sobreviver. Se realmente é uma Jornada Mundial da Juventude, os peregrinos terão a oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo mas, infelizmente, nem sempre é assim.

Participar na JMJ é um privilégio. Para a maioria do mundo supõe uma viagem proibitivamente cara. É irónico e triste que muitos críticos da JMJ a chamem de “Jornada de Juventude Branca ou Jornada da Juventude Ocidental ou Jornada da Juventude do primeiro Mundo” simplesmente porque é muito mais acessível para os que procedem de países economicamente desenvolvidos.

Os países mais pobres não têm as infra-estruturas necessárias para serem sede de uma Jornada Mundial da Juventude, ainda que contem com muitos mais católicos do que países como a Espanha, Austrália, Alemanha ou Canadá.

Para as pessoas que colocam estas questões talvez ajude pensar no exemplo de Jesus Cristo e dos santos, que viajaram grandes distâncias para proclamar o Evangelho. Para alguns de nós, o grande desafio poderá ser o de ficar em casa e pagar por algum destes jovens que quer participar e não tem meios. Para outros, participar e viver a experiência pode supor uma mudança da mente e do coração e uma abertura à verdadeira universalidade da Igreja Católica.


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